PUB
mascote
PUB


HPV

É possível através de análises moleculares de materiais ou amostras orgânicas descobrir a idade de muitos seres no planeta Terra, desde grandes vertebrados até os pequenos vírus e bactérias.

Os chamados estudos filogenéticos são os que se refere quando se analisa a sequência molecular de um determinado genoma (o conjunto dos genes) e, ao comparar com o de outros seres e grupos externos, estima-se a idade da amostra, considerando as taxas de mutações e mudanças envolvidas.

A ideia por de traz dessas análises moleculares vem da mesma mecânica que os antigos evolucionistas utilizavam nas clássicas disciplinas de paleontologia, zoologia e anatomia comparada: montar uma “árvore da vida”, a qual seus galhos e ramos demonstram as mudanças temporais dos organismos através das eras, tendo as regiões terminais as espécies em questão estudas.

Claro que os exames moleculares trouxeram uma acurácia muito maior do que o uso da morfologia paleontológica, ou a comparação de um membro superior de um anfíbio com o de uma ave no caso da zoologia: com o auxílio dos computadores, as análises moleculares ganharam enormes poderes para estimar a idade dos organismos no planeta Terra, e isso é aplicado em diferentes meios científicos e disciplinas acadêmicas, desde a própria evolução até saúde pública e ciências agronómicas.

Por exemplo, através de estudos filogenéticos que se descobriu qual o caminho que o vírus da AIDS percorreu na sua epopeia para conquistar o mundo, saindo da África subsaariana e alcançando todos os continentes (em especial a partir do pós-guerra, na década de 1950, quando as forças globalizantes foram ficando cada vez mais intensas, unindo os povos e diminuindo as fronteiras).

O HPV também é foco destas análises filogenéticas, as quais revelaram bastante informação importante a respeito da história natural deste vírus, e por quanto tempo que ele coexiste com a nossa espécie.

O vírus HPV tem ganhado cada vez mais importância no controle das IST’s devido sua associação com as infames verrugas genitais, sendo também um importante fator de risco para cânceres no colo do útero para as mulheres, assim como câncer de garganta e pescoço em homens (o rockeiro Bruce Dickinson e o ator Michael Douglas são dois exemplos de indivíduos que declararam publicamente que o câncer na garganta que tiveram foi devido a prática de sexo oral desprotegido).

Os números do HPV atualmente são bastante expressivos, já que se estima que aproximadamente 80% da população estará exposta a ele nos próximos anos: conhecer o passado do vírus ajuda os cientistas produzirem armas para combatê-lo no futuro.

A grande chance de estarmos expostos ao vírus HPV não decorre apenas da sua capacidade de infectar (que é maior do que outros vírus transmitidos sexualmente, como o HIV e a Hepatite C), mas principalmente devido a elevada diversidade de tipos de vírus que existem: por exemplo, enquanto o HIV possui dois grandes tipos, sendo que ambos causam AIDS, no caso do HPV existem mais de 200 tipos de vírus, sendo que aproximadamente 40 destes são transmitidos por vias sexuais.

Calma: a grande maioria dessas 40 variantes não causam sintomas - a chamada infecção assintomática, quando um agente infecta um indivíduo mas não manifesta sinal clínico –, fazendo com que essa grande diversidade não seja (até o momento) motivo de preocupações e riscos para doenças.

Entretanto, podemos ser sorteados e sermos infectados pelos tipos 16 e 18 do HPV: eles concentram os 70% dos casos de canceres que ocorrem no mundo associado ao vírus (canceres genitais em ambos os sexos e na garganta); ainda existem os tipos 6 e 11, que causam verrugas genitais, mas possuem menor probabilidade de desenvolver um câncer (chance essa menor que os tipos 16 e 18, mas ainda assim existente).

Um recente estudo* publicado por uma equipe espanhola revela que as primeiras infecções pelo tipo 16 ocorreram há mais de 500 mil anos, selecionando assim os primeiros vírus HPV que atingiram indivíduos do gênero humano, ancestral comum do homem moderno.

Graças aos céus os tipos que se seguiram, infectando a nossa espécie, são em sua maioria de menor impacto em nossas saúdes (entretanto sempre é necessário continuar a vigilância, já que vírus são conhecidos por sua elevada taxa de mutação).

A vacina já é uma realidade: de acordo com o site do Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos (CDC), ela é recomendada para crianças com idade entre os 11 e os 12 anos; para adolescentes assim como jovens e adultos, um médico deve ser consultado antes (conforme a condição imunológica da pessoa e o respectivo histórico com a DST’s).

 

*Transmission between Archaic and Modern Human Ancestors during the Evolution of the Oncogenic Human Papillomavirus 16. Pimenoff VN; de Oliveira CM; Bravo IG. Molecular Biology and Evolution, Volume 34, Issue 1, January 2017, Pages 4–19.