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  • A supergonorreia: estamos à beira de um apocalipse bacteriano?
supergonorreia

A seleção natural, fenômeno biológico identificado por Charles Darwin (e Alfred Wallace) no século XIX, se mostrou uma das principais diretrizes para entendermos como as espécies surgiram no planeta, e como as mesmas se desenvolveram (apesar de encontrar ainda muitas resistências, principalmente nos meios religiosos, já que esta teoria vai contra o que proclamam as muitas escrituras sagradas de épocas antigas).

Entende-se por seleção natural os seres vivos que são selecionados por pressões ambientais e ecológicas, possibilitando assim que o mais apto sobreviva conforme as condições e recursos de um determinado ambiente, conseguindo assim passar os seus genes adiante para a próxima geração.

Um ponto importante para se entender a evolução, é a genética: a molécula da vida – o DNA – presente em todas as células de seres vivos (e também os não vivos, como alguns cientistas classificam os vírus) possuem características inerentes que promovem a mudança de sua estrutura, como a mutação, a permutação (como a divisão meiótica que algumas células realizam, no caso da geração de gametas em vertebrados que realizam fecundação, por exemplo), além de outros mecanismos.

Assim, com o DNA mudando, os organismos também mudam através das eras: o genótipo é a base para o fenótipo, este o termo que engloba todas características dos organismos, sejam moleculares, fisiológicas, morfológicas, anatômicas e comportamentais.

Com o DNA em constante transformação, e o ambiente também mudando, temos ao final a seleção natural.

Também funcionando de maneira similar – mas em uma escala temporal muito mais rápida – temos o mecanismo da seleção artificial: realizada por mãos humanas (e não pela mão invisível da natureza), isso se dá devido as consequentes e constantes mudanças que a nossa espécie promove no ambiente, para fins de sobrevivência, económicos, financeiros, mercadológicos, políticos e sociais.

A descoberta do antibiótico e seu uso em larga escala a partir do pós-guerra é um dos grandes exemplos de seleção artificial, já que com o uso indiscriminado desses químicos muitas bactérias começaram a criar resistência - ou seja, foram selecionando bactérias que não eram mortas pelos antibióticos - obrigando assim as indústrias farmacêuticas a sintetizarem fármacos cada vez mais fortes, entrando em um círculo vicioso.

É nesse cenário que surgem as “superbactérias”: selecionadas por mais de 60 anos desde o advento em larga escala do uso dos antibióticos, a cada dia elas vão criando mais resistência, assumindo um destino no qual não teremos qualquer defensor químico que consiga combate-las, sendo que estes agentes etiológicos já são a primeira causa de mortalidade em pessoas internadas em UTI (a famosa infecção hospitalar, já que aqueles que estão internados nessas unidades de terapias apresentam seus sistemas imunológicos debilitados).

Muitas ISTs (Infeções Sexualmente Transmissíveis) têm seus agentes etiológicos espécies de bactérias, o que faz que estas doenças também entrem no rol das resistentes contra os antibióticos convencionais.

A gonorreia é a IST transmitida por bactéria mais importante do mundo (para os setores de controle e vigilância epidemiológica), já que é a segunda IST mais transmitida no planeta, perdendo apenas para a clamídia.

E por ser uma doença bacteriana, seus agentes infecciosos estão sim cada vez mais resistentes aos antibióticos, dando origem a temível “supergonorréia”: já há diversas notificações nos últimos dois anos de pessoas infectadas que não conseguem se curar desta enfermidade.

A gonorreia é transmitida pela bactéria Neisseria gonorrhoeae, por via sexual (anal, vaginal ou oral), ou por transmissão de mãe para filho, sendo ela uma das ISTs inseridas nos exames pré-natal (juntamente com a sífilis e o HIV, entre outras).

Há também indícios que a bactéria pode usar outas vias para infecção, como roupas intimas, toalhas e compartilhamento de objetos sexuais, conforme a carga bacteriana do hospedeiro reservatório, assim como estado imunológico de um possível receptor susceptível.

A supergonorreia vem nesse momento em que revisamos nossas práticas metodológicas do uso dos antibióticos, não apenas por vias medicinais e clínicas, mas também por outros meios: sabe-se que a grande quantidade de antibióticos que as populações humanas ingerem vem de produtos alimentícios que fazem uso da carne de porco e do frango, já que a maneira como estes animais são criados (em confinamentos) facilita infecções, demandando assim altas quantidades destes fármacos nos meios de produção.

Por causa disso, estamos vendo esse levante das superbactérias, e consequentemente da supergonorreia, a qual – se nada for feito – em um curto prazo essa doença não será mais tratável, fazendo-nos voltar a eras das trevas, quando ainda não existia tratamentos para esses tipos de agentes infecciosos.

A prevenção sempre é o melhor remédio: sempre se proteja no sexo, principalmente no sexo oral, pois é este o tipo de prática que as pessoas mais negligenciam o uso de preservativos, ou outra barreira protetora que evite o contato entre mucosas.